In – VOZ DE CABO VERDE – 1914
Desde manhã que Fidé instava Mai-Zuzz para deixar o
funco de Mané, e ir viver com ele na sua choça coberta de
colmo, nas abas da serra.
- Anda
comigo, dizia-lhe que nada te faltará. Beberás leite de cabras mais brancas que
algodão que touca a serra. Terás duas panelas de ferro, bindes novos, cimbos alvíssimos, colheres de
laranjeiro amarelas como flores de cardo santo, pratos de loiça, cama de pinho
com sobrecéu de esteira, cobertas da América, mantas de lã…
Anda comigo,
Mai-Zuzz, e deixa esse velho bode com quem vives.
Não! Não
quero, vai-te embora.
Mai-Zuzz!
- Berbum
cár! Sai daqui!
De repente
entrou Mané, depôs, no chão, o pau e os barquinos
cheios, atirou o chapéu para um banco, cuspiu na palma da mão, tomou um grosso
manduco. Mediram-se, em silêncio, os dois pastores. Mané tinha as feições
contraídas; e os olhos encovados no fundo de riçados de cordas russas, hirsutas,
lançavam, lançavam chispas.
Depois,
rápido, atirou-se e começou o terrível jogo.
Mi-Zuzz,
agachada, encolhida atrás da porta, que fechara, esperava, friamente, o
desfecho do duelo, como espera a fêmea do leão.
Os dois
pastores rugiam. O sangue corria. Súbito uma cacetada baixa, horizontal da
esquerda para a direita, dirigida ao estomago, alcança o cotovelo direito de
Fidé, e desarma-o. A mão largou o manduco; o braço caiu; Fidé rugiu uma
imprecação obscena e caiu. Mané curvou-se e sovou-o até vê-lo desmaiado. Arrastaram-no
para fora e foram deitá-lo à estrada.
***
De manhã seguinte passa um rancho de
caminhantes. Acordam Fidé. O pastor está ensanguentado moído de pancada. Tem o
posterior dos calções lamentavelmente sujos…
Que é isto Fidé?
Não é nada. Acabo de dar uma lição
àquele cobardão do Mané;
- Mas insistiram, como estás assim
neste estado, com os calções a tresandarem?
Isto não é nada. Eu quando me zango, é
sempre assim…
Desenho
de José de Moura/ Texto ET
Caro Mendes:
ResponderEliminarConstato que està de volta. Uma boa ideia e coragam mesmo se os preguiçosos não deixarem mantenha. Gostaria que adoptasses e sistema de anuncio à saida das postagens porque podemos estar distraidos.
Vai um grande braça.
Força !!!
Esta gravura não representa a paisagem natural cabo-verdiana, mas naquele tempo não se primava muito por certo critério de rigor. Quanto à estória, vá que não vá, mas se o seu autor (daquele tempo de diazá) no-la quer apresentar como tal, só nos resta comentar e opinar segundo o nosso próprio critério.
ResponderEliminarObrigado, Artur, por mais esta pesquisa.